Sem a rádio, a comunidade não fica nada bem

ago 9, 2018

A radionovela Ouro Negro e as mudanças sociais em Memba, na Província de Nampula

Abiba é uma jovem mulher de 25 anos e ela terminou o ensino secundário. Ela vive com o seu parceiro e as suas duas crianças de 3 e 7 anos de idade numa comunidade rural perto de Memba, na província de Nampula, no norte de Moçambique. Na sua zona, não há energia eléctrica e por isso não tem televisão. Mas ela, como muitos na sua comunidade, gosta de escutar rádio. Ela conta que “sem a rádio, a comunidade não fica nada bem. É só vender feijão e amendoim, para comprar pilhas e poder ouvir a rádio. As pessoas não vão a cidade vender feijão e amendoim e não voltar com pilhas.”

Ela ouviu a radionovela Ouro Negro pela primeira vez na rádio, por acaso. Ela gostou e começou a escutar regularmente. Em particular, Abiba gostou de um episódio que conta de uma mulher grávida que não tinha apoio do marido e não frequentava as consultas pré-natais. A mulher acaba dando parto a trabalhar na machamba e aí perde a vida. O Bisheik, um homem gentil e atencioso, tenta ajudar a senhora e, depois da sua morte, fica a cuidar do bebé. Segundo Abiba, esta história deu uma importante lição a ela e às outras mulheres da sua comunidade e motivou-as a influenciar também os seus maridos:

“Importante que eu digo é que as mulheres já fazem o que não faziam. Depois de escutarem o programa, já sabem como se cuidar… já sabem se este homem querem o bem de mim ou não… o homem deve aconselhar para ir ao hospital, assistir o parto… os outros não fazem isto. Isto agora alguns já fazem… parece brincadeira, mas agora depois de escutar fazem. As mulheres põem os homens a escutar. Homens até reclamam que o programa veio estragar as suas vidas… Mas agora já sabem o que fazer, vão a machamba juntos, ajudam… isto através do Ouro Negro.”

A partir da escuta da história da radionovela, Abiba e as suas amigas começaram a explicar aos parceiros os riscos de não ter cuidados apropriados durante a gravidez e de dar parto em casa. Os homens, inicialmente desconfiados, procuraram mais informação, começaram a escutar a radionovela com as esposas e acabaram descobrindo que o elas diziam era verdade.

Quando perguntámos a Abiba se o seu marido também era um daqueles que não ajudava em casa, ela explica: “Era, mas dai já passou aquilo. Através da rádio, foi através da rádio. Agora já escutamos (Ouro Negro) juntos sim e se for a passar uma parte que a gente não entendeu, ficamos bem atentos para o próximo capítulo.”


Entretanto, há ainda muita coisa para mudar. Para Abiba, as mamanas, isto é, as senhoras mais velhas, são o grande problema na sua comunidade no que diz respeito aos cuidados das crianças. Estas senhoras defendem que as crianças devem ser cuidadas como elas sempre fizeram com os seus filhos no passado: “nossos filhos, nós não fazíamos isso ai, mas viveram e tiveram filhos até agora, que nem você!” Por isso, muitas mulheres não costumam levar as suas crianças no centro de saúde, para receber as vacinas, sobretudo aquelas que dão parto em casa.

Neste contexto, mais uma vez, a radionovela Ouro Negro oferece à Abiba e às outras mulheres jovens a oportunidade de tornar-se agentes de mudança na sua comunidade. Quando as senhoras mais velhas escutam na radionovela que se fala de vacinas, elas começam a perguntar: “de que vacina estão a falar?”. Então Abiba diz que elas, as mulheres mais jovens, explicam que se trata da primeira vacina contra o tétano, que é importante para o bebé e que o protege em caso de ter uma ferida. Ela argumenta: “não, mamã! Não pode levar o que acontecia dantes, nós temos de levar nossos filhos à vacina.” 

E assim, com a ajuda de Ouro Negro, as jovens mulheres conseguem convencer as senhoras mais velhas e algumas já começaram a levar os seus bebés nas consultas.

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